Economia bomba, mas cabo de guerra governo/BC prejudica
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Conhecidos os principais indicadores da atividade econômica em março, é possível concluir que a economia brasileira repetirá o padrão dos últimos anos e registrará forte crescimento no primeiro trimestre de 2025. As projeções convergem para uma alta de pelo menos 1,5% sobre o último trimestre de 2024, podendo chegar até uma expansão de 2%. Números oficiais do IBGE estão previstos para serem divulgados em 30 de maio.
Mais uma vez, de acordo com as previsões, este será o pico de crescimento do ano, com redução no ritmo de avanço no segundo trimestre e, possivelmente, retração no segundo semestre. A puxada do PIB (Produto Interno Bruto), de novo, virá da agropecuária, que está colhendo e entregando outra safra recorde. O consumo das famílias, sustentado por desemprego baixo e renda alta, dá suporte a essa expansão.
A força desse crescimento pode ser avaliada pela atualização da taxa trimestral prevista. A repetição do mesmo nível de crescimento, de 1,8%, nos demais três trimestres do ano, levaria a uma expansão econômica de 7,5% em 2025. Um ritmo de crescimento que ocorreu em 2010 e que nem a China consegue mais repetir.
Como o carregamento estatístico de um crescimento de 1,8%, no primeiro trimestre, levaria a uma alta de 2,6% do PIB, se a expansão fora zero nos demais trimestres do ano, a hipótese mais aceita, no momento, é de que, realmente, a marcha da atividade tende a desacelerar ao longo do ano.
No cenário mais provável, com desaceleração contínua ao longo do ano, a economia cresceria em torno de 2% em 2025 — a mais recente previsão do governo é de expansão de 2,5%. Uma redução de ritmo expressiva ante o avanço de 3,4% em 2024, mas ainda assegurando crescimento robusto nos primeiros três anos do terceiro mandato de Lula — acima de 8,5% ou quase 3%, na média anual.
Uma ideia da prevista queda no ritmo da atividade pode ser encontrada nas projeções para a variação do consumo das famílias e do investimento (medido pelo volume de recursos aplicado na formação de capital fixo). Se o consumo avançou robustos 4,8% em 2024, não deverá crescer mais do que 1,6% em 2025. No caso do investimento, que subiu 7,3%, no ano passado, a estimativa é de alta de apenas 1,5%, neste ano.
"Puxa-estica"
A garantia de um crescimento mais acelerado tem sido obtida com um cabo de guerra entre o governo e o Banco Central. Enquanto o BC puxa para o lado restritivo, com uma política de juros altos para conter a demanda e a inflação acima das metas, Lula estica pelo lado expansionista, com uma política fiscal mais frouxa e estímulos de crédito.
Resulta daí um maior grau de ineficiência nos impactos desejados das políticas. O "puxa-estica" obriga, do lado monetário, à adoção de taxas básicas de juros mais elevadas, para aliviar pressões inflacionárias, mesmo assim conseguindo apenas "estabilizar" a inflação acima do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas. E exige, do lado dos estímulos à atividade, doses adicionais de benefícios, para assegurar a expansão do consumo e da atividade. A consequência é um reforço dos efeitos colaterais negativos das políticas adotadas.
Razões políticas
Não é difícil entender por que um governo insiste em fazer a economia avançar, com estímulos ao consumo, mesmo ante restrições fiscais evidentes. A ideia de que um ajuste com base em austeridade fiscal e restrições ao consumo, além não garantir a desejada retomada do crescimento em tempo aceitável, é politicamente indesejável. Propor sacrifícios antes dos benefícios, é plataforma eleitoralmente arriscada.
O arcabouço fiscal desenhado pelo próprio governo Lula, e a disposição do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, seu criador, em conter gastos públicos, mesmo com "escapes" legais, tem levado o governo a reagir às contenções fiscais com estímulos ao consumo. São medidas e pacotes de ampliação efetiva de renda, via redução de impostos ou crédito.
Uma série de programas está na agulha do governo, para aprovação no Congresso ou definição de programas de ação. A começar da isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil mensais.
Estão também em finalização, entre outros: 1) a extensão do crédito consignado para trabalhadores com carteira assinada; 2) um turbinado "vale gás, gratuidade nas contas de energia elétrica para inscritos no Cadastro Único; e 3) linhas de créditos especiais para motos, de olho em entregadores de aplicativos. Isso sem falar no "PIX garantido", modalidade de financiamento em fase final de elaboração pelo BC, que permitirá a concessão de empréstimos "consignados" pelos recebimentos esperados, com vistas a atender, principalmente, trabalhadores individuais cadastrados como MEIs (microempreendedores individuais).
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